Surgida há quase 200 anos, a fotografia rapidamente ganhou espaço na sociedade que se revolucionava industrialmente e desejava documentar as maravilhas que produzia. Mas o início foi polêmico, porque teóricos não creditavam a fotografia como uma representação artística. Charles Baudelaire (1821-1867), famoso poeta e teórico francês, entendia que a fotografia tinha uma natureza distinta. A câmera seria uma extensão do olho ou da memória, enquanto a pintura da imaginação.
Porém, com o passar do tempo a fotografia derrubou barreiras de resistência e passou lentamente a ser entendida de uma forma diferente, ganhando novas noções de apreciação que a qualificariam como algo maior. Um dos defensores desse viés foi o fotógrafo inglês Henry Peach Robinson (1830-1901), que ficou conhecido pela combinação pioneira de impressão juntando vários negativos ou impressões para formar uma única imagem. Para o britânico, o fotógrafo, por meio da técnica, deveria ter experiência artística para alcançar o efeito pictórico, “constituído de arte, natureza, autenticidade, beleza e artifícios de estúdio”.
Vivendo nessa dualidade, ao longo do tempo a fotografia foi sendo desenvolvida em meio a guerras, revoluções, transformações culturais e ambientais, até que em meados do século XX passa a ser vista também como uma bela arte, ou em inglês, ‘fine art’. Ou seja, uma produção esteticamente agradável e criativa, porém de uso prático, destinado ao estímulo intelectual, segundo conceito do Instituto Internacional de Fotografia (IIF).
Com esse entendimento, um novo ramo da fotografia se apresenta ao público. Uma imagem que esteja à disposição para contemplação e atenda a critérios de qualidade e aspectos técnicos. A fotografia fine art, apesar da infinidade de conceitos existentes, é caracterizada basicamente pela qualidade final da obra, definida não só pela estética, mas também pelo caráter artístico. Essa qualidade é também definida pela representação final para exibição, ou seja, o acabamento.
Com essa estrutura, a fotografia ganha espaço e passa a ocupar espaços antes dedicados a pinturas. A imagem fine art agrega uma série de detalhes de forma e conteúdo, desde o olhar inicial do fotógrafo até a impressão final, para que esteja à disposição da nossa apreciação. As fotografias são produzidas para as mais diversas finalidades, mas cumprindo elevados requisitos de detalhamento e qualidade. Ou seja, a fine art possibilita ter uma imagem eternizada para contemplação em alta qualidade, agregando ao conteúdo da obra valor estético.
Ulysses Sousa